Ter que viver longe da família, em uma centro público mantido pelo estado, ao mesmo tempo em que tem de lidar com traumas e dores decorrentes de situações de vulnerabilidade extrema. Essa é a realidade de mais de 30 mil jovens brasileiros, que vivem em Unidades de Acolhimento Institucional devido a motivos como violação de direitos (abandono, negligência, violência) ou pela impossibilidade momentânea de cuidado e proteção por sua família. Os dados são da pesquisa Unidade de Acolhimento e Famílias Acolhedoras, produzida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Buscando auxiliar nos problemas enfrentados por essas crianças e adolescentes, um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) leva atendimento psicológico gratuito a esses jovens. O Projeto Acolher existe desde 2010, e completa 13 anos de funcionamento em 2023, atendendo jovens em acolhimento institucional durante todo esse período.
De acordo com Symone Fernandes de Melo, professora da UFRN e uma das coordenadoras do projeto, a inspiração para a promoção da ação vem da percepção de que muitas crianças encaminhadas ao Serviço-Escola da instituição não tinham como ser atendidas devido a grande procura do local. Esses jovens vinham das Unidades de Acolhimento, e suas histórias chamavam a atenção dos psicólogos do local, que entenderam que seria importante a manutenção do atendimento pleno dos mesmos.

Mais de 2.600 atendimentos foram realizados desde o início do projeto, com cerca de 220 crianças passando pela ação, que conta com acompanhamento psicoterapêutico – com sessões de 50 minutos -, além de outras atividades, como construção de álbuns de história de vida, e acompanhamento terapêutico extra-muros. Essas atividades tem como objetivo auxiliar os jovens a compreenderem suas dores e a si mesmo, e lidarem com isso de forma positiva, além de coloca-los em contato com dispositivos culturais e promover o desenvolvimento de sua autonomia.

Aqueles que passam pelo projeto o consideram marcante, como é o caso de Rhavenna Ribeiro, psicóloga atuante na Unidade de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes I, vinculada a Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social. Ela participou da ação como aluna da UFRN, e retornou mais tarde como servidora da prefeitura municipal. Para a psicóloga, o projeto tem um impacto importantíssimo para as crianças, que chegam às unidades após terem passado “muitas fragilidades e muitas vulnerabilidades”.

O projeto é desenvolvido no Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA), Serviço Escola da UFRN, em articulação sistemática com a 2ª Vara da Infância e Juventude da Comarca de Natal, a Promotoria da Infância e Juventude do Ministério Público do RN, as Unidades de Acolhimento Institucional I e II e o Aldeias Infantis SOS Brasil. O auxílio de órgãos públicos se dá com o suporte de estudo de caso, dando informações para o acompanhamento individual de cada criança.

Os serviços de atendimento psicoterapêutico são feitos no próprio Serviço-Escola da UFRN, enquanto as demais atividades são feitas nas Unidades de Atendimento. A frequência de atividades é semanal, e conta com 32 pessoas envolvidas para sua promoção. Entre os participantes, o projeto conta com 3 docentes da instituição, 2 técnicos psicológicos do Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA), 11 alunos, 7 psicólogos voluntários e 9 profissionais da rede de assistência social e Vara da Infância.

Tribuna do Norte

FOTO: CEDIDA

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